Música

terça-feira, 31 de maio de 2011

Crônica - P.A. Personagens Anônimos - Thalles Fontana



 Encontrei o blog Nove estórias por acaso e achei muito interessante as crônicas de Thalles Fontana.
Na crônica abaixo o autor faz uma brincadeira com algumas personagens marcantes da literatura mundial. Mais informações sobre o blog, acesse:

www.noveestorias.blogspot.com

P.A. Personagens Anônimos

Todos estavam sentados formando um círculo. No centro estava Watson, o psicólogo.

- Boa tarde a todos. Hoje vamos começar com a primeira sessão de terapia. Meu nome é Watson e eu quero deixar bem claro que eu estou aqui para ajudar todos vocês. Essa é uma clínica de terapia especial, aceitamos apenas grandes personagens literários, por isso sintam-se em casa.

Silêncio.

- Alguém gostaria de começar se apresentando? – perguntou Watson.

- Eu! Por favor! Posso começar?

- Sim, claro. – respondeu Watson. – diga seu nome e o problema.

- Certo. Meu nome é Alice. Do país das maravilhas.

- Sim, nós conhecemos a sua história, Alice. – disse o psicólogo.

- Pois então. Até hoje eu não consigo dormir, sempre sonho que estou caindo em um buraco! Não agüento mais essa vida. A minha história já terminou e mesmo assim eu não consigo tirar essa cena da minha cabeça!

- Alice, minha querida, o que você está tendo nós chamamos de depressão pós-história. Isso acontece com todos os personagens...

- Comigo não acontece! – gritou Capitu.

Todos olharam para ela.

- Não tenho sonhos ridículos de que estou caindo em um buraco.

- Ridículos? Quem você pensa que é? – gritou Alice. – Aliás, quem é você? Você é famosa?

- Como ousa?! Sou Capitu. Grande personagem do Machadinho.

- Nunca ouvi falar... – disse Alice provocando.

- Óbvio! Estava ocupada demais tomando poções para ficar pequena e passar por aquela porta! Por que não vai a uma academia, hein? Gorda!

- Dissimulada! – gritou Alice.

- Já chega! – gritou Watson. – Temos que nos respeitar! Capitu, é claro que você não sonha com buracos! Até mesmo porque a sua história não envolve buracos! – disse o psicólogo.

- Na minha história o buraco é bem mais embaixo. – provocou Capitu. – Envolve tramas bem mais desenvolvidas e complexas. Não é mesmo, querido? – perguntou Capitu a Bentinho.

- Não me chame de querido, sua dissimulada. – retrucou Bentinho.

- Ai, lá vem... Você ainda está nervosinho por causa daquela história?

- Qual história? – perguntou Watson. – conte para todos nós.

- Ela me traiu. – gritou Bentinho. – essa manipuladora barata.

- Não traí, eu já disse! – gritou Capitu. – deixa de querer ser corno! Não aconteceu nada entre mim e o Escobar.

- Vamos acalmar os ânimos, pessoal. – disse Watson. – estamos aqui para resolver problemas e não criar mais alguns!

- Eu gostaria de falar, posso? – perguntou uma mulher de trança.

- Claro, por favor! – respondeu Watson.

- Meu nome é Julieta. Creio que não será preciso contar do que se trata a minha história, pois todos já devem ter lido. Minha história foi escrita há muito tempo e eu não me conformo!

- Com o quê? – perguntou Alice.

- Com o que esse palerma fez! – disse Julieta apontando para Romeu.

- Eu? O que foi que eu fiz? – perguntou Romeu.

- Você se matou, criatura! E eu estava viva, seu energúmeno!

- Mas como é que eu ia saber? Você parecia uma pedra!

- Fazia parte do plano... Ai, meu Deus... Shakespeare podia ter me dado um homem mais esperto...

- Realmente, a sua história é muito drama mexicano. Confesso que nunca achei graça. – disse Alice.

- E a sua, garota? – gritou Julieta. – a sua história não tem pé nem cabeça!

- Isso é verdade... – disse Capitu. – nem a versão em 3D do filme fez com que eu conseguisse captar a mensagem.

- Catupi, fica na sua! – gritou Alice.

- É Capitu! Burra! – berrou Capitu.

- Silêncio! – gritou Watson. – isso aqui não é um hospício! É quase! Mas ainda é uma clínica de terapia!

Os personagens se acalmaram.

- Alguém quer finalizar a sessão? – perguntou Watson.

- Eu gostaria. Posso? – perguntou um sujeito que fumava um cachimbo.

- Claro. Diga o seu nome e seu problema.

- Holmes. Sherlock Holmes.


O silêncio foi geral. Todos ficaram surpresos e um ar de respeito pelo detetive tomou conta da sala.

- E eu não tenho nenhum problema. – disse Holmes.

- Todos têm problemas. – disse Bentinho.

- Mas eu não tenho. Eu fui criado para resolver problemas!

Sherlock Holmes levantou-se da cadeira, abotoou o sobretudo marrom, ajeitou o cachimbo e num tom misterioso disse:

- E com todos esses anos de experiência eu posso afirmar-lhes seguramente: nenhum de vocês tem volta. Estão todos loucos!

- Mas o que foi que você disse? – disse Watson apavorado.

- Elementar, meu caro Watson.

E foi com a força que o sapato de Alice acertou o queixo do detetive que o barraco começou.

Thalles Fontana

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